Não sei - Cora Coralina

"Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas."



quarta-feira, 1 de junho de 2011

Outra vez casamento



Casamento. Volto de novo a este assunto que me impressiona tanto. Gente! como pode uma pessoa conviver com outro, dentro de uma casa, noite e dia, toda hora; participando inclusive de momentos intimos de sua rotina? É dose!

Desde pequena meu sonho era formar uma família, ter os meus filhos e cuidar da minha casa. Passava horas pensando como seria a carinha de cada um deles. Como seriam os cabelos,as mãozinhas, como seria o dia que falasse : "_ mamãe."

No dia do meu casamento, tremia tanto que mal podia segurar o buquet, aquela era uma data há muito esperada.

Conseguimos arrumar o pequeno apartamento, que possuia uma cozinha tão pequenininha, que só cabia uma única pessoa e assim mesmo não era permitido muitos movimentos. O sofá, brincávamos, que era ortopédico, porque só permitia que sentássemos ereto.

No momento que abri a porta da minha casa, o meu marido não pode nem me carregar, porque ajoelhei e beijei o chão.Que coisa maravilhosa é viver para poder sentir o tempo de ter a minha casa.

Quando a minha primeira filha nasceu, eu ficava horas, sentada vendo-a dormir, encantada.Olhava tanto que ela acabava acordando.Era um amor que não queria nunca mais acabar.Depois com a chegada dos outros não tinha mais tempo para nada. O amor era o mesmo, mas, o trabalho não permitia.

Mas, viver casado é um desafio. Você tem que se inventar, dia a dia.

Lembro de uma senhora no consultório médico que revoltada falava:

_ Não sei porque fui acreditar naquela conversa mole de padre; casamento não é e nunca foi para a vida toda. Deveria sim como toda a sociedade, ter data de validade. No momento do casamento deveríamos era fazer um contrato estipulando o tempo máximo de 1o anos.

A sua filha escutava irritada e replicava: _ mamãe você não deveria falar assim e aqui.

Eu, curiosa perguntava: _ Mas, a senhora não acha que está estipulando um tempo muito grande não?

E ela afirmava; _ Acho minha filha que estou até sendo generosa demais.Uns 5, está de bom tamanho.

Depois completava para desespero da filha: _ E ainda por cima adoece, para a gente ainda ficar de babá e enfermeira.

Lá vai a filha de novo: _ mãe, você só faz porque quer.

_ Eu? só faço porque quero? E quem vai querer cuidar daquele traste?

Eu me atrevo a perguntar_ O que foi que ele teve?

_ AVC minha filha, AVC. Agora até comidinha na boca tenho que dar.

A filha resolve explicar: _ Ela soube agora, depois de tanto tempo, que ele, meu pai, tem uma outra família.Inclusive com um filho quase da minha idade.

_ A mãe rebate furiosa: _ Mas, nem se compara com você.

E eu lá curiosa: _ Mas, a senhora acha que a validade resolveria isto?

_ Bem, se não resolvesse, pelo menos não ficaria aquelas palavras do padre na minha cabeça, na doença e na saúde.

A conversa teve que interromper porque a médica me chamou.

Depois, já em casa fiquei matutando sobre aquela conversa e achei que a senhora tinha razão.Para vida toda é muito tempo! Quanto mais agora, que se vive mais tempo.

Lá em Jequié, havia um ditado: _" se comeu a carne, agora tem que roer o osso."

Esse negócio de traição é outra coisa que este tanto tempo, favorece. E em relação a ela (traição)

pensei na sabedoria da minha avó paterna.

Contam, que certa vez apareceu em sua casa, uma pessoa; sempre há este espírito de porco não é mesmo? que resolveu ir lá disfarçadamente para tratar de outro assunto, mas, na verdade, a visita era para lhe dizer das histórias do meu avô Chico. Ela não deixou nem o camarada abrir a boca e foi logo dizendo: _ "Olha, a vida de Chiquinho só me interessa, da porta para dentro, o que ele faz da porta para fora, só diz respeito a ele mesmo."

Adorei! Não é verdade? Deu uma dura naquela mal amado!!!

E além do mais, ela deu um duro danado junto ao marido para ter o que tinha e naquele tempo iria fazer o que? mulher não trabalhava e não possuia recurso. E se não é para tomar uma atitude, para que ficar remoendo mágoa; como a minha senhorinha lá de cima do consultório médico.

Ela, sabia muito bem na alcova, fazer valer a sua opinião. E cuidou de seu Chiquinho até o fim muito bem.

Eu, já estou há 36 anos casada com o meu Pedrinho, com esta família que amo e que espero cuidar por um bom tempo.Será que já passou da validade? vai lá saber...




Um comentário:

Por Favor, deixe seu comentário.